there is a tiger no chassi
folgo eu & folgas tu em sabê-lo
a não floração dos ipês
está intimamente
ligada
com
a
má
qualidade do ar
folgas em sabê-lo
o preço-bomba
de ser
quem
tu
és:
eternamente cativante
por aquilo que
se responsabiliza
o rei na barriga
manda cortar a cabeça
do pequeno príncipe do umbigo
não se exasperem
a realeza aprendeu a lidar assim
com o sonho da guilhotina
é festa na noite do poeta contraregra
do findo fundo
poço artesiano
é água que escorre
da sua incapacidade de gritar
fique por dentro
das nossas
redes
sociais
não fique
de fora
do
nosso
enredo
socialista
o jornal
de ontem
está valendo
quatorze reais
o quilo
jornal o quilo
notícias de peso
sangue de praxe
sinapsicanalhistas
elevam a sintaxe
ao posto de notícia boa
para que um eventual shih tzu
possa mijar em paz
artigo bom de opinião
para agasalhar
a matéria fecal
de um border collie
border
line
hoje
o melhor engraxate de são paulo
não veio trabalhar
& eu me pego descendo
a rua itapeva
contemplando pedro
hoje em casa
engraxando
porra
nenhuma
o que pedro
me conta
de pedro
me faz saber
mais de pedro
do que de pedro
hoje não tinha um pedro
no meio do
caminho
paulista wall street suítes para alaúde
dedilho minha minicerteza
em busca
da pedra filosofal
da dúvida eterna
não me iluda
literata
estacione na linha branca
a qualquer hora
& com qualquer credencial
estacione ½ hora
estacione dia inteiro
depois da normalista
vem aí fique ligada
a mensalista
as demais horas
demais ou não
serão cobradas a parte
serão cobradas a partir
do coeficiente de cobra
que sua verve inspira
sois veneno
meu bem
mas o antídoto antipathos
já foi lançado
antes
que trocasses
de pele e pelo
com o lobo
em pleno delírio de cordeiro
a tolerância em são paulo
dura 5 minutos de ampulheta
anote meu número
zero onze
nove
nove
nove
três
oito
dois
nove
cinco
três
e me diga em plena noite
alta
madrugada
como estou
dirigindo
o filme da
nossa
vida
antisuicídio
você dá o passo
o diabo dá a rasteira
e deus dá o chão
o chão é seu amigo
existe um
verso
perfeito
ao final
de cada queda
& essa é a última vez que te passo cola:
caia!
a minha outra face
está locada
para uma briga de foice
está aplicada no fundo
de investimentos
debaixo
do prato
do lado
mais
forte
da balança
eu danço para não segurar
o verso
criança
e lá pelas tantas
agradeço
pelas pernas
não reclamo
extrapolo as consequências
& apresento minha lambança orçamentária
se eu der a outra face
perco ponto no mercado de ação desgraça
a realidade não é o que parece
wisnik
diz
que isso em italiano
soa muito melhor
vou pegar 1/3 da minha fortuna crítica
& dar aos pobres de espírito de porco
pessoas se dispõe
pessoas ou estão dispostas
ou são pequenas despotas esclarecidas no enigma
a máquina do mundo azeitada
não contava com a força
estoica
dos
fantasmas
que giram
a roda
nada é real
tudo por 1 real
o café de hoje
foi pro ralo
da
história
é preciso ser
muito
artista
para não desistir
de ser
artista
nesse país
as fozes da minha cabeça
não cessam
o escândalo
com direito
à partitura
agora que a peça acabou
o teatro finalmente pode começar
paulatinamente
e sem morais edificantes
um vômito
organizado
poético
& estético
uma ilustre autópsia canibal
renuncia demiúrgica
sem paradinhas expressivas
urge uma consciência viável
a massa de manobra marginal faminta
quer comer
a massa tem fome
quer comer amassa
tem fome
quer dormir
amassa
mas tem fome
quer comer o rei
a vela
a oficina oficiosa
eu ainda vou comer maçã
no parque do bixiga
eu ainda vou queimar
a ordem de despejo do paraíso
eu ainda existo
apesar dos inimigos rumores
não há história
não há ação
há a representação da história
há
quem
seja
mais
cínico
há
quem
seja
mais
cênico
mesmo que finda
a peça
continua
em espectro
moto-contínuo
a oração para resurgir é entoada
do outro lado
do palco
onde coxia e platéia
se confundem
na demolição da quarta parede
quase sempre
tão
desnecessária
a peça é a mesma
a mesmíssima peça
senhoras e senhores
trocam-se apenas as plumas
e os personagens voltam a se animar
.
.
.
felipe blanco,
02 de julho de uma décima terceira semana comum
de 2025 razões
para abandonar o calendário
gregoriano
ps: poema escrito após leitura coletiva na
livraria simples
da peça
o rei da vela
de oswald de andrade
aqui o link para o exemplar à venda em nosso site:
leia o livro